quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Inês Relvas: o feminismo é uma ideologia.

 

Uma das características da época actual é a negação da realidade, a convicção de que as coisas não existem em si mesmas mas apenas como projecção da nossa subjectividade.

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Esta demência contemporânea é uma consequência do Romantismo dos séculos XVIII e XIX (por exemplo, o jacobinismo da Revolução Francesa), que obliterou o Iluminismo: o racionalismo idealista é irracional, quando afirmou impunemente que o mundo se formava e mudava mediante “ideias” (por exemplo, Hegel); foi assim que nasceram as ideologias (“a lógica de uma ideia”, segundo a Hannah Arendt criticando o nazismo), estruturas de pensamento ou meras colecções de sinais que negam a realidade das coisas e submetem essa realidade à vontade humana que se crê capaz de a moldar a seu bel-prazer, rumo a um paraíso na Terra.


Uma tal Inês Relvas escreve no Observador:

“Sou uma mulher de 28 anos a trabalhar numa indústria (ainda) maioritariamente masculina, e numa empresa que valoriza a diversidade.”

Devemos ser todos feministas. Mas mesmo?

O “ainda”, no contexto da frase, significa que (para ela) seria preferível (na empresa) uma maioria feminina a uma masculina. Mas, ao mesmo tempo, na mesma frase, ela diz que “a empresa valoriza a diversidade” — estamos em presença de uma estimulação contraditória. O problema de algumas mulheres é o de que estão convencidas de que os homens são mesmo estúpidos.

Ela começa com uma definição nominal de “feminismo”. Uma definição nominal é (um pouco) aquilo que nós quisermos, porque assenta em uma convenção prévia (por exemplo, os sinónimos de um dicionário). Porém, o que realmente conta é a definição real de “feminismo”, que é aquela que resulta das características invariavelmente observadas a partir dos dados da experiência. E a nossa experiência diz-nos que a definição nominal de “feminismo” que ela invoca serve para satisfazer o ego de uma mulher que pensa que os homens são burros.


É claro que, como boa ideologia, o feminismo da moça é maniqueísta: “não ser feminista significa ser sexista. Escolham o vosso lado”. Ou isto ou aquilo, uma falsa dicotomia. Ou seja, não é possível — segundo a criatura — ser feminista e, simultaneamente, ser sexista. Ser sexista é apenas e somente uma característica dos porcos machos. Esta ideia é semelhante àquela outra que diz que “um preto não pode ser racista”. Estamos no domínio do politicamente correcto que nos insulta a inteligência todos os dias.

Diz ela que o feminismo é “a luta pela igualdade de direitos e oportunidades para ambos os géneros”.

Ela não diz “ambos os sexos”!: em vez disso, diz “ambos os géneros” (gramaticais, certamente). Para ela, os sexos não existem (a negação da realidade), mas antes existem “géneros”. E mais: o que me chateia é que a menina nos faça de idiotas: imaginem que um anão pretende uma “igualdade de oportunidades” na disciplina do salto em altura, e pretende saltar acima de 2 metros para ser campeão nacional: certamente irá dar com as trombas no chão.

O conceito de “igualdade de oportunidades” é a maior treta inventada pelo Romantismo, desde logo porque é impossível contornar a influência do acidental na vida do indivíduo.

Os acontecimentos da vida humana não passam dos acidentes do indivíduo vivo – por exemplo, a minha visita a Paris é um acidente da minha vida; mas as características físicas de Paris também se constituem em acidente. A contingência da realidade humana (o “acidental” na vida humana) é, em si mesma, a negação da “igualdade de oportunidades”. As diferenças endógenas entre indivíduos são a prova insofismável de que a “igualdade de oportunidades” é puro romantismo. Aliás, John Rawls compreendeu isto mesmo quando inventou o conceito de “véu de ignorância”.

Pelo facto de a “igualdade de oportunidades” ser uma grande treta, não significa que nos transformemos em selvagens: por isso existe a ética, por um lado, e o conceito de “equidade”, por outro lado.

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Uma coisa diferente da “igualdade de oportunidades” é a “igualdade de direitos”, porque esta apela ao Direito Natural, à ideia de uma igualdade natural entre seres humanos, à igualdade perante a lei (desde que a lei não coarcte o direito do indivíduo à sua própria identidade), ou seja, a ideia de que os seres humanos têm uma dignidade igual.

Quando a menina Inês conjuga os dois conceitos em uma mesma frase (“igualdade de oportunidades”, por um lado, e “igualdade de direitos” por outro lado), entra em contradição; ou então, o que é pior, favorece a “igualdade” em detrimento da “liberdade individual”. A “igualdade” parte do princípio de que os indivíduos têm uma dignidade comum, mas não que são semelhantes em todos os outros aspectos: e é também por isso que o conceito de “igualdade de oportunidades” é uma treta.

É possível, teoricamente pelo menos, resolver a contradição entre a “igualdade de direitos” (que eu também defendo) e “desigualdade de condições” (que se opõe realisticamente à tal “igualdade romântica de oportunidades”): não com a supressão desta última, mas reduzindo-as nos limites onde a desigualdade é compatível com a justiça. Esta concepção baseia-se mais na ideia de “equidade” — justa distribuição dos benefícios sem que estes sejam necessariamente o resultado de uma partilha igualitária — do que na de “igualdade”.

Quanto à alegada “diferença de salários entre géneros”: este argumento ideológico feminista já foi desmontado bastamente.

 

Aliás, a menina Inês insulta a inteligência dos empresários, porque, alegadamente, estes preferem pagar mais dinheiro aos homens para fazer o mesmo trabalho que as mulheres poderiam igualmente fazer. Decididamente, segundo a menina Inês, os homens empresários são burros que nem portas (e nem se compreende como empresárias de renome, como por exemplo Isabel dos Santos, prefere trabalhar com homens — vá-se lá saber por quê!!!).

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