A “escravidão” é um estado existencial/ontológico; a “escravatura” é um estado político/social.
“Viver na escravidão” pode não ser a mesma coisa que “viver na escravatura”. Pode-se viver, por exemplo, na “escravidão dos vícios” (a submissão aos vícios), ou, em termos poéticos, na “escravidão do amor” (a submissão em relação ao ente amado).
Porém, os brasileiros chamam à escravatura, “escravidão” — como podemos verificar neste texto.
Contudo, o mais incómodo do referido texto é a “crítica” que faz ao conservadorismo (através da critica a Edmund Burke) — não que o conservadorismo não seja passível de qualquer crítica: não se trata disso; o problema é que a crítica em referência no texto não faz sentido (não tem lógica).
A referida crítica ao conservadorismo é escorada em uma análise de uma obra de ficção literária. O autor do texto recorre a um romance ficcional para propôr uma crítica ao conservadorismo — o que é um completo absurdo.
Aliás, este é o método tradicional da Esquerda: recorrer à narrativa ficcional, muito carregada emocionalmente (o apelo sistémico à emoção), para fazer valer os seus pontos de vista; por isso é que os “liberais” actuais fazem parte da Esquerda: estes também são “progressistas”, no sentido em que também concebem o “progresso” como uma lei da Natureza.
Vivemos em um mundo em que o confronto político entre mencheviques e bolcheviques se globalizou: a Esquerda (os bolcheviques actuais) e a dita “Direita” (os mencheviques actuais) são duas facções do mesmo partido global.
E quem não faz parte (quem não identifica com esse) desse partido dos bolcheviques e mencheviques coevos, não pode ser “progressista”.
Os bolcheviques (a Esquerda) e os mencheviques (a “Direita”) actuais, partem do princípio errado segundo o qual “existiu um progresso real e positivo nas sociedades ocidentais desde o Iluminismo até aos nossos dias” — quando, na realidade, o único “progresso” que existe realmente é o que se verifica nas Ciências da Natureza, e mesmo este progresso científico não está isento de erros, de avanços e recuos.
A liberdade a que o “liberal” actual aspira, não é a de um homem livre, mas antes é a liberdade de um escravo em dia de feira. A verdade é que a dignidade do ser humano não está na sua (pretensa e alegada) liberdade, mas antes está no tipo de restrições livremente aceites pela sua vontade.
Os mencheviques e bolcheviques de hoje justificam o alegado “progresso social moderno” retrófobo (falácia ad Novitatem) varrendo a miséria moral que defendem para baixo do tapete da ética política que sustentam — por exemplo, quando criticam a escravatura dos séculos passados, ao mesmo tempo que defendem a liberdade de matar um ser humano (aborto) chamando-lhe um “conjunto de células”.
O problema histórico da escravatura é demasiado complexo para ser abordado à luz da emoção. A escravatura é tão antiga quanto a prostituição. Ainda hoje existem escravos que o “liberalismo progressista” não conseguiu eliminar (por exemplo, nos territórios libertados pelas revoluções da chamada “Primavera Árabe” progressista). As sociedades actuais diferenciam-se meramente no estatuto dos seus escravos e no nome que lhes dão. É tudo uma questão de semântica.
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