quinta-feira, 28 de abril de 2022

A Raquel Varela e o branqueamento do Holodomor


Um bom comunista, que se preza como tal (ou um cripto-comunista, como é, por exemplo, Putin) nega a existência do Holodomor. É o caso da Raquel Varela.

A Raquel Varela chama ao Holodomor estalinista de “colectivização forçada”. É assim que os “historiadores” branqueiam a História. Não é “genocídio”!: é “colectivização forçada”. Desta não se lembrou o George Orwell!

Para a Raquel Varela, a teoria segundo a qual não teria existido “genocídio” na Ucrânia estalinista, mas antes apenas uma “colectivização forçada”, revela uma incapacidade de moldar os factos aos seus (dela) propósitos. E, a esta incapacidade, ela chama de “contexto”. E disto tudo, a Raquel Varela sai cada vez mais descredibilizada.

Comentar os textos da Raquel Varela é um exercício penoso, chegando por vezes a ponto de causar náusea.

As chamadas “ciências humanas” contemporâneas estão a estrangular a História, porque constroem esquemas atemporais que, de uma forma sub-reptícia, restauram o “homem abstracto” do século XIX — que os “reaccionários” populares actuais chamam de NPC (Non Personal Character).

npcmeme


A ideia segundo a qual “a bandeira portuguesa é (para o CHEGA) um símbolo fassista”, só poderia vir da cabecinha oca da Raquel Varela — ou então, a utilização da bandeira nacional só pode ser feita pela Esquerda e, portanto, a utilização simbólica da bandeira portuguesa por parte do CHEGA é ilegítima, senão mesmo ilegal, porque, para a Raquel Varela, o CHEGA é um partido “fassista”. Não há como contornar este problema.


Um historiador que investiga “causas”, “estruturas”, ou “leis” na História, acaba por se fechar na sua própria subjectividade: é o caso da Raquel Varela.

A ambição de transcender (ir para além delas) as representações empíricas e extrínsecas da consciência alheia, transforma a História em uma mera projecção do historiador: se tenta ir “para além” da consciência dos sujeitos históricos, o historiador não descobre senão a sua própria consciência.

A maioria dos “historiadores” crê que os critérios de verosimilhança, prevalecentes no seu tempo, são universais.

A complexidade dos factos históricos é de tal forma, que as teorias mais estapafúrdias encontram sempre justificações aplicáveis — como é o caso da redução da ligação simbólica da “cruz de ferro” ao nazismo, ou da redução simbólica da bandeira nacional ao alegado “fassismo do CHEGA”. Na História, abundam exemplos para ilustrar as teorias mais heterodoxas da Raquel Varela.

Para Raquel Varela, o totalitarismo cripto-comunista de Putin deve ser exclusivista: segundo a Raquel Varela, a Ucrânia não tem o direito de se defender utilizando meios políticos semelhantes aos de Putin.

Por isso, “a abolição de partidos políticos, jornalistas, perseguições a gente de esquerda e imposição da censura nos media ucranianos” (sic) são atributos e meios de acção a que só o Putin tem direito legítimo: para a Raquel Varela, a utilização destes expedientes “fassistas” para defesa da Ucrânia, não é legítima.

Para Raquel Varela, o “fassismo” do cripto-comunista Putin é tolerável; mas o “fassismo” semelhante, o do Zelensky, já não é.

É este o “contexto” histórico defendido pela Raquel Varela que transforma a sua (dela) análise histórica (da invasão russa da Ucrânia) em uma projecção da sua própria (dela) ideologia.

A Raquel Varela não se dá conta — porque o QI não ajuda, por um lado, e porque ela teria que ter estudado filosofia muitos anos a fio, por outro lado — de que um “historiador” estrangeiro, por mais sagaz que seja, transcreve sempre a sinfonia histórica da Ucrânia em uma partitura para flauta. E, a esta simplificação da História daquele país, a Raquel Varela chama de “contexto”.

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