quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em linguagem dialéctica marxista: Portugal vai precisar de uma “evolução qualitativa”

 

O José Pacheco Pereira coloca aqui o dedo na ferida:

«Como é que se vivem décadas de “austeridade”? Não se vivem. Com Troika ou sem ela, com plano cautelar ou sem ele, o que nos dizem os governantes é que a “austeridade” é para ficar como o novo modo de vida “ajustado” dos portugueses. Esta perspectiva de “vida” é impossível em democracia, só em ditadura. Só com ditadura ou com guerra civil é que é possível esse “ajustamento”. Se continuarmos a viver em democracia, é impossível. Mais, é economicamente auto-destrutivo, ou seja, os efeitos que gera este longo “ajustamento”, se se viesse a verificar, tornam-no insustentável, logo ineficaz, logo errado.»

25_abril_povo_tanquePortugal está a passar — na linguagem do José Pacheco Pereira — uma “Grande Depressão” sem “New Deal”. Ou seja, uma Depressão sem esperança; uma Depressão que se traduz em suicídio nacional, a não ser que aconteça uma “evolução qualitativa”. A ideia segundo a qual “a democracia veio para ficar” não passa de uma certeza que se baseia em uma mera fé política.

O problema pode ser colocado em termos de Deve e Haver: quando a coluna do Haver (aquilo que se pode perder, ainda mais do que já se perdeu) continua a minguar, e a coluna do Deve continua a aumentar, chegará então o momento — o “ponto de saturação” do sistema — em que compensará operar uma “evolução qualitativa” em relação ao regime. Quando chegar esse “ponto de saturação”, de nada valerá às elites estrebuchar e berrar: a “evolução qualitativa” opera-se, o Brasil (ou outro país qualquer) voltará a receber refugiados políticos e os corruptos, a História repete-se sem que as pessoas se apercebam hoje do que andam a fazer.

Porém, os “donos do sistema” pensam hoje assim: “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas!”; enquanto a “evolução qualitativa” não chega, “a gente vai sacando desalmadamente, antes que se faça tarde!”: estão-se cagando para a democracia: o que eles querem é “o deles” — Todo, se possível: “aquele” que emprestaram e “aquele” que se reproduziu espontaneamente — antes que os sinos toquem a repique. Não vá o diabo tecê-las!

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