sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pela primeira vez estou de acordo com um texto do Daniel Oliveira

 

“Se a questão fosse a importância de Eusébio, seria difícil justificar a ausência, no Panteão, de Egas Moniz, José Saramago, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Vitorino Nemésio, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, António Sérgio, Álvaro Cunhal ou Sá Carneiro.”

O meu acordo é de princípio, embora a minha tese tenha um desenvolvimento ligeiramente diferente. Desde logo, aquilo que o Daniel Oliveira defende hoje seria impensável que ele defendesse há dez anos; mas isso são contas de outro rosário... toda a gente tem o direito a mudar de opinião.

Parece-me claro que existe hoje uma conivência sem precedentes entre os me®dia (vulgo “comunicação social”), por um lado, e, por outro lado, o poder político representado por Passos Coelho. Os me®dia tornam-se politicamente seguidistas e ideologicamente acríticos; e as excepções confirmam a regra.

O problema não se trata de existir, ou não, um “poder político elitista que se recusa a ceder aos humores populares”, como refere o Daniel Oliveira. Isto porque foi o poder político, com o conluio do seguidismo dos me®dia, que lançou esta campanha de “Eusébio ao panteão”. Se o poder político é elitista em Portugal, então é este nosso “elitismo” que não se recusa a ceder aos “humores populares”. É um facto que existe uma diferença substancial entre elitismo, por um lado, e populismo, por outro lado. E segue-se, então, que temos um “elitismo populista”, que é a pior forma de elitismo possível.

O que se passa em Portugal é muito preocupante, e esta campanha política do “Eusébio ao panteão já” é apenas um sinal daquilo a que José Pacheco Pereira chamou de “confusão colectiva”. E a confusão é de tal ordem que qualquer discurso acerca deste (e doutros) temas deixa de fazer qualquer sentido, como se a indisciplina mental tomasse conta da realidade. E quando os discursos deixam de fazer sentido em função de uma pré-determinação dos factos decidida arbitrariamente pela elite política, estamos em presença de uma tentativa de irracionalização da sociedade. É este o “ponto”, o fulcro do problema.

Este Portugal irracionalizado não é o meu Portugal. Pode ser o vosso, mas então não sejam cobardes e assumam as vossas responsabilidades; não digam, depois, quando se soltarem os monstros do romantismo político que fundamenta qualquer tipo de populismo, que “a culpa é dos outros”.

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