segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ser de Esquerda é estar na moda

 

boca-de-sinoLembram-se das “botas à Beatle” da década de 1960 ou das “calças à boca-de-sino”?

Os jovens que não as usassem não estavam na moda, e por isso teriam uma maior dificuldade de integração na roda de amigos. As modas são criadas pelas elites — por exemplo: as “botas à Beatle” foram criadas pelo grupo musical The Beatles, e as calças “à boca de sino” tornaram-se populares na década de 1960 e de 1970 por intermédio dos grupos musicais que também estavam na moda.

Ou seja, as modas aparecem em primeiro lugar na elites sociais, e através de um efeito cultural de Trickle-down (definido pelo filósofo Georg Simmel no princípio do século XX), estendem-se a toda a sociedade. ¿Toda?! Não! Quase toda; porque, como nas histórias do Astérix, há sempre um grupo de gauleses que resiste ao império da moda.

 


A Inês Teotónio Pereira escreve o seguinte:

“Se eu fosse de esquerda a minha vida seria muito mais simples. Ser de esquerda é ser boa pessoa e eu gostava que toda a gente me considerasse boa pessoa - ninguém duvidaria das minhas boas intenções mesmo que eu tivesse como sol o regime da Coreia do Norte. Mas quis o destino que eu gostasse mais dos mercados do que de Hugo Chávez e isso trama-me a vida. Não tenho credibilidade em matéria de bondades. É injusto.”

singularidades da nossa revoluçãoOra, acontece que “gostar de mercados” nem sempre esteve na moda da Direita — porque a Direita também esteve na moda até Maio de 1968 (e por azar, foi também em 1968 que o Salazar caiu abaixo da cadeira: parece que estava escrito nas estrelas). A moda dessa Direita era mais dos monopólios económicos e financeiros privados do que de outra coisa: essa Direita não gostava muito dos mercados abertos e globais: era uma moda de privilégio dos monopólios privados dos mercados nacionais; por exemplo, a moda da Direita de De Gaulle, ou a moda da Direita de Salazar, ou a moda da Direita de Franco, etc.

E, de repente, a moda mudou e tornou-se internacionalista através da Esquerda que passou a estar na moda; e é por isso que hoje a Direita também é internacionalista através do globalismo, ou seja, a Direita pegou na moda internacionalista da Esquerda e adoptou o seu princípio, embora adaptando-o ao “gosto dos mercados”.

A Inês Teotónio Pereira continua:

“Mas o pior nem é isso, o pior é que além de ser de direita também sou católica. Ora um católico praticante de direita 40 anos depois do 25 de Abril não é mais do que um beato fascista. Um retrógrado. Como se não não bastasse ser de direita, ainda tinha de inventar ser católica. É mau de mais. Se eu fosse de esquerda e católica, a minha circunstância seria muito mais agradável e já ninguém me chamava beata fascista. Seria com muita pinta apelidada de católica progressista, o que é muito mais chique e moderno. E eu gostava de ser chique e moderna, apesar de católica e de gostar dos mercados.”

Esta coisa de “estar na moda” tem muito que se lhe diga: entre outras coisas, obedece a símbolos, embora esteja hoje na moda dizer que “não se obedece a símbolos”. Por exemplo, se um católico se referir ao cardeal Bergoglio como “papa Francisco”, é imediatamente considerado de Esquerda. Mas se se referir a ele apenas como “papa”, ou como “papa Francisco I”, os próprios católicos progressistas olham para esse católico de esguelha, ou seja, de forma canhota e sinistra. É que agora há dois tipos de católicos: os “fassistas” e os “progressistas”. Os “fassistas” são aqueles católicos que obedecem a símbolos, e os “progressistas” são aqueles que também obedecem a símbolos mas que dizem que “não obedecem a símbolos”.

Acontece que “papa Francisco” é chique; está na moda e soa bem. Não tem aquela coisa dos números cardinais obsoletos, como por exemplo, João Paulo II ou Bento XVI. A numeração romana é coisa dos cotas do tempo dos reis. Agora é moderno o “papa Francisco”, tu-cá-tu-lá, “ó papa, estás porreiro?”, “boé de fixe, meu!”, “tudo numa boa, ó Chico!”.

“A coisa agrava-se ainda mais pelo facto de eu ter muitos filhos. Ter seis filhos, ser de direita e ainda por cima ser católica, é uma desgraça completa. É quase estupidez. É pedir chuva. É como gostar de ser gozado no recreio por causa da franja e teimar em manter a franja. Ainda por cima tenho o supremo azar de os meus filhos serem loiros (só tenho um moreno). Ora loiros, neste contexto, quer dizer betos. Tudo mau. Se eu fosse de esquerda ninguém olhava para os meus filhos como meia dúzia de betinhos mimados. Agora, esta coisa de ter uma família do tipo "Música no Coração" dá cabo da minha reputação. 40 anos depois do 25 de Abril e sem nenhum capitão de Abril na família (apenas um católico progressista), a minha reputação é, fatalmente, miserável.”

Ora, aqui está! Perguntem aos academistas coimbrinhas do blogue Rerum Natura o que significa “ter muitos filhos”, e eles dirão, sem qualquer hesitação que é própria da ciência, de que se trata de “um indício de subdesenvolvimento”. Essa coisa de ter muitos filhos é coisa dos pretos da África sub-sariana. E como os progressistas (por definição) não são racistas, tendem a transformar os pretos em seres humanos através do “progresso cultural da opinião pública”. É neste sentido que o Bill e a Melissa Gates também são progressistas e de Esquerda, embora gostem do mercado globalista.

Para a Esquerda, a Inês Teotónio Pereira é uma espécie de preta com cara de branca; ou uma espécie de Liliana Melo a quem os progressistas tiraram os filhos para adopção por serem muitos. A diferença entre a Inês Teotónio Pereira e a Liliana Melo é a de que os progressistas ainda não conseguiram arranjar um argumento legal para lhe retirar também os filhos para adopção (de preferência, para adopção gay, que também está na moda).

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