quarta-feira, 7 de maio de 2014

O padre Anselmo Borges e “os perigos das canonizações”

 

O Padre Anselmo Borges — o tal Padre que defende a legitimidade do aborto, o que é uma coisa extraordinária! —, escreveu um texto que fui buscar a um sítio de que não quero fazer publicidade, e por isso pode ser lido aqui em ficheiro PDF. O título do texto é: “Canonizações e seus perigos”.

O padre Anselmo Borges faz uma crítica ao processo de canonização (da Igreja Católica) ao longo dos séculos. Ou seja, ele parte do princípio de que seria possível uma história dos processos de canonização isenta de qualquer erro: o padre Anselmo Borges pretende uma Igreja Católica perfeita, e como essa Igreja Católica perfeita não existe, ele desanca nela. É um pouco como aquele homem que quer que a sua mulher seja perfeita, mas como ela tem defeitos como toda a gente, trata de lhe dar uma sova diária. Faz falta ao padre Anselmo Borges reler a “Cidade de Deus” de Santo Agostinho.

É claro que o padre Anselmo Borges se considera a si próprio um supra-sumo, o que o legitima na sua superioridade moral para poder desancar na história da Igreja Católica a seu bel-prazer. E escreve o santo padre Anselmo Borges:

«Num dos estudos mais fiáveis que se fizeram mostra-se que “de 1938 casos examinados de santos canonizados, 78% pertenceram à classe alta, 17% à classe média e só 5% à classe baixa”.»

O padre Anselmo Borges é um espertalhão! Num tempo (na Idade Média, por exemplo) em que 99% (ou coisa que o valha!) da população da Europa era analfabeta, em que apenas a nobreza e o clero tinham direito a aprender a ler e a escrever, ele descobriu que apenas 5% dos analfabetos (a tal “classe baixa”) tiveram direito a canonização — como se não fosse preciso ser alfabetizado para poder ler a Bíblia e os textos teológicos; como se fosse possível ser santo da Igreja Católica sem ter a mínima noção do que que teologia católica implica.

E referindo-se ao milagre necessário para a canonização, o espertalhão Anselmo Borges escreve o seguinte:

«E tem de haver o "milagre" exigido como comprovativo de santidade. Isso é magia. E pensar que Deus interrompe ou suspende as leis da natureza supõe que Ele está fora do mundo e que, de vez em quando, vem dentro e vem para uns e não vem para outros. Ora, Deus não está fora mas dentro, como fundamento do milagre da existência de tudo. Precisamente porque tudo é milagre - o milagre de existir - não há "milagres".»

1/ diz ele (o padre Anselmo Borges) que, por um lado, “tudo é milagre”; mas, por outro lado, diz ele que o milagre comprovativo para canonização é magia. Segue-se, então, que se tudo é milagre, então tudo é magia (estou apenas a seguir a lógica da opinião do espertalhão, e não a minha), porque o milagre não pode ser magia num caso, e não o ser no outro.

2/ aconselho o leitor (mas não ao padre Anselmo Borges, porque seria “chover no molhado”, “burro velho não toma andadura”) a ler este relato da vida de uma senhora francesa, de seu nome Jeanne Fretel, nascida a 27 de maio de 1914 na Bretanha.

3/ a ideia segundo a qual se depreende que “se Deus suspende as leis da natureza, é porque Ele está fora do mundo”, é análoga à ideia segundo a qual um empresário que suspende uma determinada norma da sua empresa tem que estar necessariamente fisicamente dentro da empresa — não o pode fazer por telefone, por exemplo; ou por intermédia pessoa. Ou seja: é uma imbecilidade.

Por outro lado, se Deus, estando fora do mundo, suspende as leis da natureza, isso significa que ele também pode agir no (dentro) mundo — o que não significa que “Deus pertença ao mundo”, como pretende dizer o imbecil Anselmo Borges. A possibilidade de “agir no mundo” não reduz Deus à imanência mundana: é a transcendência de Deus que o imbecil nega.

2 comentários:

  1. A esse sr ninguém faz nada, já o Pe. Gruner, — que se submete a todas as tradições e respeita todos os dogmas —, não o deixam em paz; pior, já o tentaram afastar diversas vezes. Esse homem é mais revolucionário que os comunistas que eu conheço.

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  2. Seguindo a lógica blasfema Borgiana surge como corolário que Jesus Cristo é um mágico.

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