quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O povo português é reaccionário — diz ele

 

Se, por exemplo, um indivíduo chega à conclusão de que não tem dinheiro para comprar um Ferrari, e por isso abstém-se de o comprar, então ele é um reaccionário — diz o Luís Osório. A definição de reaccionário segundo Luís Osório parece ser a seguinte:

“Um reaccionário é uma pessoa que leva a sério as limitações existenciais impostas pela realidade”.

O reaccionário Nicolás Gómez Dávila tem uma noção diferente de “reaccionário” :

“O reaccionário é aquele que não só tem um sentido apurado para detectar o absurdo, mas também tem um palato adequado para o saborear”.

O Luís Osório é um progressista. Para ele, por exemplo, se uma pessoa pensa que é o Napoleão, não é maluco: em vez disso, é progressista; os malucos não existem: a maluquice é uma construção cultural e social do povo reaccionário.

O psiquiatra Júlio Machado Vaz não concordaria exactamente com Luís Osório, porque o conceito de “progressista” visto desta forma seria ruinoso para o negócio da psiquiatria: Júlio Machado Vaz diria o seguinte: “somos todos malucos: só que há malucos reaccionários ou progressistas”.

Outro absurdo do Luís Osório é a premissa segundo a qual as elites (a chamada “ruling class”) tem geralmente mais razão do que o povo dito “reaccionário”. A História mostra-nos exactamente o contrário: o povo reaccionário tem geralmente mais razão do que as elites; Karl Popper, que era um liberal, por exemplo, corroborou esta experiência histórica.

Um liberal é um céptico (do tipo moderno de cepticismo, e não do tipo grego); basta lermos Hayek, por exemplo, para verificarmos nele a profunda influência de David Hume e dos marginalistas. Mas o cepticismo não implica necessariamente um pessimismo: há cépticos optimistas e até utopistas, como por exemplo Bertrand Russell; ou como os libertários de Esquerda em geral (nos quais se inclui o Luís Osório). O Luís Osório é um céptico optimista. O cepticismo não é incompatível com o optimismo, desde que seja um optimismo fundado na dúvida em relação ao poder da razão humana. O cepticismo optimista contemporâneo tornou a colocar a irracionalidade na moda.

Já o pessimismo, quando casado com a ironia, são características do reaccionário: “com bom humor e pessimismo, não é possível o equívoco e o enfado” — diria o bom reaccionário. O reaccionário é, por definição, “aquele que reage”. O povo reaccionário reage contra a loucura endógena das elites.

É falso que Passos Coelho seja um pessimista (como afirma Luís Osório). O Luís Osório raciocina assim: “aquele indivíduo pensa de maneira diferente da minha, ou pensa diferente dos utopistas de Esquerda; logo, ele é pessimista”. Não lhe passa pela cabeça que Passos Coelho possa ser optimista em função das ideias e da mundividência dele (de Passos Coelho). Não passa pela cabeça de Luís Osório que exista uma certa utopia optimista por entre os parcos neurónios de Passos Coelho.

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