domingo, 15 de novembro de 2015

¿A guerra é inelutável?

 

A Raquel Varela faz aqui uma série de considerações comedidas sobre a guerra — por exemplo, comparando os mortos na Síria com os mortos em Paris. Naturalmente que os mortos na Síria não justificam os mortos em Paris, porque se assim fosse, a tese da Raquel Varela seria auto-contraditória.

¿A guerra é inelutável?

Em primeiro lugar, há que saber se existem guerras justas ou guerras injustas. Quando a Raquel Varela classifica a guerra, em geral, de “barbárie”, é de supôr que (para ela) toda a guerra é injusta. E, neste sentido, podemos afirmar que, para a Raquel Varela, a guerra movida pelos aliados contra o nazismo, por exemplo, também foi uma guerra injusta.

Uma feminista que se preze — como é o caso da Raquel Varela — considera todas as guerras injustas; e compreende-se por que razão: a guerra é essencialmente coisa de homens; em tempo de guerra não se limpam armas nem mulheres; “é sempre a andar!”.

Esta ideia de que a guerra é coisa de homens foi traduzida por Václav Havel (esse faxista!), que se perguntou se o homem europeu não perdeu o sentido da existência ao renunciar ao horizonte do sacrifício supremo, que lhe está, contudo, indissociável: “Uma vida que não está disposta a sacrificar-se a si mesma ao seu sentido, não vale a pena ser vivida” — escreveu o seu amigo Jan Patočka que morreu pelas suas ideias.

Mas supondo que Václav Havel e Jan Patočka sejam demasiado reaccionários para o gosto da Raquel Varela, talvez seja melhor falar de um anarco-anti-capitalista que caia melhor do goto (salvo seja) da Raquel Varela. Recordemos o que diz o anarquista e anti-capitalista Proudhon (La Guerre et La Paix) acerca da guerra:

“A guerra é inerente à humanidade e deve durar tanto quanto ela: faz parte da sua moral”.

E acrescenta:

“Se, pelo impossível, a natureza tivesse feito do homem um animal exclusivamente industrioso e sociável, e não guerreiro, teria caído, desde o primeiro dia, ao nível dos animais cuja associação forma todo o seu destino”.

A guerra é indissociável da acção política — como o demonstraram Maquiavel e Clausewitz.

Saber o que é uma “guerra justa”: eis o busílis da questão. E quando Kant defendeu uma “paz perpétua” através de um governo mundial, não se deu conta de que um governo mundial não pode ser outra coisa senão totalitário. E não há pior guerra do que a imposta aos cidadãos por um sistema político totalitário — como é, por exemplo, o Islão. Talvez por isso é que, na opinião da Raquel Varela, os mortos feitos pelo Islão sejam a mesma coisa em Paris e na Síria.


Adenda: A RV apagou o “post”, mas pode lê-lo aqui em PDF.

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