Há muitos anos, um militante do Bloco de Esquerda disse-me que “o aborto é um acto de amor”.
Vemos aqui como um mal, entendido em si mesmo (o aborto), é justificado retoricamente utilizando o argumento do “amor” no casal. O argumento é o seguinte: para que o amor vingue, no seio do casal, é (muitas vezes) necessário sacrificar a vida de um ser humano em formação.
O “argumento” supra não é racional: é puramente retórico.
A retórica é tudo o que exceda o estritamente necessário para uma pessoa se convencer a si mesma.
A retórica de pior gosto é a que renuncia às exigências estritas e mínimas da cidadania, mas sem renunciar ao seu vocabulário — como é o caso deste textículo do Henrique Pereira dos Santos acerca da corrupção na política:
“Eu compreendo que, politicamente, é muito mais eficaz falar de corrupção (do) que falar da simplificação de processos de decisão, que é onde acaba a desaguar o discurso racional sobre corrupção (a versão abrutalhada do discurso sobre corrupção acaba em discussões sobre penas, perseguições, justiça e essas coisas todas que, essencialmente, podem servir para assinalar a virtude superior de quem fala, mas são largamente inúteis para limitar a corrupção).”
O Henrique Pereira dos Santos confunde “Poder”, por um lado, e “corrupção”, por outro lado — na ânsia (irracional) de criticar o CHEGA.
A verdade, porém, é que o Poder (entendido em si mesmo) não corrompe!, apenas liberta a corrupção larvar (latente), principalmente de quem aspira irracionalmente ao Poder.
Alguns políticos actuais nem sequer se corrompem!: oxidam-se!.
Portanto, a corrupção não é uma fatalidade do Poder — ao contrário do que afirma (implicitamente) o Henrique Pereira dos Santos.
Ou seja, a “simplificação de processos de decisão” não implica necessariamente “corrupção”, mas o Henrique Pereira dos Santos argumenta que quem pretende combater a corrupção (o CHEGA) faz a ligação entre as duas coisas — tal como o militante do Bloco de Esquerda fazia a ligação entre o “amor” e o “aborto”.
É a diluição retórica do Mal.
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