segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O cardeal Bergoglio, e o conceito de fé e dúvida (1)

 

“O crente sabe como se duvida; o incrédulo não sabe como se crê” — Nicolás Gómez Dávila

No cardeal Bergoglio (aka Francisco I) existe a convicção segundo a qual, a fé, para ser autêntica, deve incluir (implícita ou explicitamente) a dúvida. Esta convicção existe ainda hoje no cardeal expressa através de várias intervenções públicas, mas já existia quando o Padre Jorge Maria Bergoglio se ordenou sacerdote com 33 anos de idade.

“Mais do que razões para crer, há razões para duvidar da dúvida” — Nicolás Gómez Dávila

O que nós temos que saber é o que significa “dúvida” no contexto da fé religiosa; temos que definir “dúvida” neste contexto.

“A fé não é conhecimento do objecto, mas antes comunicação com ele” — Nicolás Gómez Dávila



O conceito de “dúvida”, segundo o cardeal Bergoglio, é semelhante ao conceito de “dúvida” da Nova Teologia protestante de Bonhoeffer (Dietrich Bonhoeffer) et Al. A “dúvida”, neste contexto, passa pelo conhecimento dos desígnios de Deus — é uma dúvida que exige conhecimento, ou seja, é uma dúvida gnóstica. Podemos verificar isso mesmo na homilia que o cardeal Bergoglio concedeu no dia 20 do corrente mês :

Na realidade, frisou, o Evangelho não contém palavra alguma de Nossa Senhora: Maria «era silenciosa, mas dentro do seu coração quantas coisas dizia ao Senhor» naquele momento crucial da história. Provavelmente Maria reconsiderou as palavras do anjo que «lemos» no Evangelho em relação ao seu Filho: «Naquele dia disseste-me que será grande! Disseste-me que lhe darás o trono de David seu pai e que reinará para sempre! Mas agora vejo-o ali», na cruz. Maria «com o silêncio encobriu o mistério que não entendia. E com o silêncio deixou que o mistério pudesse crescer e florescer» trazendo a todos uma grande «esperança».

«O Espírito Santo descerá sobre ti, o poder do Altíssimo cobrir-te-á com a sua sombra»: as palavras do anjo a Maria, disse o Pontífice, garantem-nos que «o Senhor encobre o seu mistério». Porque «o mistério da nossa relação com Deus, do nosso caminho, da nossa salvação não pode ser exposta nem publicitada. O silêncio conserva-o». O Papa Francisco concluiu a sua homilia com a oração para que «o Senhor nos dê a todos a graça de amar o silêncio, de o procurar e ter um coração guardado pela nuvem do silêncio. E assim o mistério que aumenta em nós dará muitos frutos».

Desde logo, a atribuição de um processo de intenções a Maria é um abuso. Depois, o Bergoglio elabora sobre esse processo de intenções que, ao contrário do que ele diz, não tem literalmente nada a ver com a posição assumida pelo Papa João Paulo II na sua encíclica Redemptoris Mater (outro abuso do Bergoglio).

O conceito de “dúvida” do Bergoglio tem origem no conceito decadente de “dúvida” de Kierkegaard que, por sua vez, esteve na origem da Nova Teologia de Bonhoeffer: é uma dúvida existencialista e que exige o conhecimento sobre Deus (gnose). Sem esse conhecimento gnóstico de Deus, o ser humano fica paralisado em função da dúvida que surge por falta desse conhecimento de Deus.

Este erro teve a sua origem em Descartes que dividiu o ser humano em corpo e alma (dualismo): antes de Descartes, para a Igreja Católica e nomeadamente S. Tomás de Aquino, o ser humano era uma unidade integrada e não dividida, sendo apenas potência em acto (Aristóteles).

O Bergoglio afirmou, preto no branco (fazendo um processo de intenções a Maria) que a mãe de Jesus se sentiu desiludida e frustrada com Deus. Para o Bergoglio, essa frustração e desilusão decorre da dúvida dualista cartesiana que ele adoptou em relação à fé católica e que provém da Nova Teologia e do existencialista Kierkegaard.

Introduzir a corrente filosófica existencialista na doutrina da Igreja Católica é uma péssima ideia. Quando dizem que “o papa Francisco I é contra a Teologia da Libertação e contra o Marxismo”, trata-se de uma falácia, porque do existencialismo idealista de Kierkegaard ao existencialismo materialista e marxista de Sartre, vai um passo de caracol: o princípio é o mesmo: a dúvida cartesiana aplicada à metafísica.

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