Mostrar mensagens com a etiqueta Descartes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Descartes. Mostrar todas as mensagens

sábado, 5 de junho de 2021

Kant é essencial para salvar a ciência e a ética, em relação ao niilismo do pós-modernismo


O Ludwig Krippahl escreve aqui um texto que rebate (ou contradiz) a ideia segundo a qual

“a ética é uma palhaçada, porque, enquanto os objectos de estudo [da ciência] continuariam a existir quer existissem humanos ou não, os valores morais não existem sem sujeitos”.

Ora, o que o Ludwig Krippahl está a contraditar, são exactamente os princípios filosóficos que regeram o advento da modernidade — Francis Bacon, Hobbes (principalmente), e Descartes.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Rousseau passou a vida a plagiar conceitos


Vemos aqui um texto que nos demonstra como o Jean-Jacques Rousseau foi o precursor da Teoria Crítica — a arte retórica niilista de colocar em dúvida a própria dúvida: e é só nisto que Rousseau é original, porque a crítica que Rousseau faz aos filósofos é literalmente copiada de Pascal [por exemplo, quando Blaise Pascal afirma que a filosofia conhece “280 bens supremos” de modo que cada filósofo teria a sua própria moral].

Ainda no referido texto, Rousseau [a negação romântica da ciência, como acontece hoje, por exemplo, com o Bloco de Esquerda e com uma certa parte do Partido Socialista] refere-se à dúvida sistemática de Descartes, criticando-a:

“Estava naquele estado de espírito de incerteza e de dúvida que Descartes exige para a procura da verdade. Este estado não é feito para durar, é inquietante e penoso; deixa-nos apenas o interesse do vício e a preguiça na alma. Não tinha o coração tão corrompido para aí me comprazer; e nada preserva melhor o hábito de reflectir que estar mais satisfeito consigo do que com o seu destino”.

Mas assim como Rousseau copiou Pascal, assim Descartes copiou Santo Agostinho que antecipou, no século IV, a famosa ideia de Descartes do século XVII: “cogito, ergo sum”:

“¿Quem quereria duvidar de que vive, se lembra, compreende, pensa, sabe ou julga? É que, mesmo quando se duvida, compreende-se que se duvida... portanto, se alguém duvida de tudo o resto, não deve ser dúvidas acerca disto. Se não existisse o Eu, não poderia duvidar absolutamente de nada. Por conseguinte, a dúvida prova por si própria a verdade: eu existo se duvido. Porque a dúvida só é possível se eu existo”.

→ “Cidade de Deus” (Santo Agostinho)

A professora Helena Serrão chapou o referido texto de Rousseau sem quaisquer comentários (“quem cala, consente”, diz o povo) — um texto da respigado da obra de Rousseau “L’Émile ou de l’éducation”, obra essa que fez [talvez] com que Rousseau enviasse os seus cinco filhos para um orfanato para não ter a preocupação e a trabalheira de os educar.


“Quando vemos ambos que aquilo que dizes é verdadeiro — ¿onde é que o vemos?, pergunto-te. Decerto não é em ti que o vejo, não é em mim que o vês. Vemo-lo ambos na imutável Verdade, que se encontra acima das nossas inteligências.”

→ Santo Agostinho, Confissões, XII, XXIV, 35

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O cardeal Bergoglio, e o conceito de fé e dúvida (1)

 

“O crente sabe como se duvida; o incrédulo não sabe como se crê” — Nicolás Gómez Dávila

No cardeal Bergoglio (aka Francisco I) existe a convicção segundo a qual, a fé, para ser autêntica, deve incluir (implícita ou explicitamente) a dúvida. Esta convicção existe ainda hoje no cardeal expressa através de várias intervenções públicas, mas já existia quando o Padre Jorge Maria Bergoglio se ordenou sacerdote com 33 anos de idade.

“Mais do que razões para crer, há razões para duvidar da dúvida” — Nicolás Gómez Dávila

O que nós temos que saber é o que significa “dúvida” no contexto da fé religiosa; temos que definir “dúvida” neste contexto.

“A fé não é conhecimento do objecto, mas antes comunicação com ele” — Nicolás Gómez Dávila



O conceito de “dúvida”, segundo o cardeal Bergoglio, é semelhante ao conceito de “dúvida” da Nova Teologia protestante de Bonhoeffer (Dietrich Bonhoeffer) et Al. A “dúvida”, neste contexto, passa pelo conhecimento dos desígnios de Deus — é uma dúvida que exige conhecimento, ou seja, é uma dúvida gnóstica. Podemos verificar isso mesmo na homilia que o cardeal Bergoglio concedeu no dia 20 do corrente mês :

Na realidade, frisou, o Evangelho não contém palavra alguma de Nossa Senhora: Maria «era silenciosa, mas dentro do seu coração quantas coisas dizia ao Senhor» naquele momento crucial da história. Provavelmente Maria reconsiderou as palavras do anjo que «lemos» no Evangelho em relação ao seu Filho: «Naquele dia disseste-me que será grande! Disseste-me que lhe darás o trono de David seu pai e que reinará para sempre! Mas agora vejo-o ali», na cruz. Maria «com o silêncio encobriu o mistério que não entendia. E com o silêncio deixou que o mistério pudesse crescer e florescer» trazendo a todos uma grande «esperança».

«O Espírito Santo descerá sobre ti, o poder do Altíssimo cobrir-te-á com a sua sombra»: as palavras do anjo a Maria, disse o Pontífice, garantem-nos que «o Senhor encobre o seu mistério». Porque «o mistério da nossa relação com Deus, do nosso caminho, da nossa salvação não pode ser exposta nem publicitada. O silêncio conserva-o». O Papa Francisco concluiu a sua homilia com a oração para que «o Senhor nos dê a todos a graça de amar o silêncio, de o procurar e ter um coração guardado pela nuvem do silêncio. E assim o mistério que aumenta em nós dará muitos frutos».

Desde logo, a atribuição de um processo de intenções a Maria é um abuso. Depois, o Bergoglio elabora sobre esse processo de intenções que, ao contrário do que ele diz, não tem literalmente nada a ver com a posição assumida pelo Papa João Paulo II na sua encíclica Redemptoris Mater (outro abuso do Bergoglio).

O conceito de “dúvida” do Bergoglio tem origem no conceito decadente de “dúvida” de Kierkegaard que, por sua vez, esteve na origem da Nova Teologia de Bonhoeffer: é uma dúvida existencialista e que exige o conhecimento sobre Deus (gnose). Sem esse conhecimento gnóstico de Deus, o ser humano fica paralisado em função da dúvida que surge por falta desse conhecimento de Deus.

Este erro teve a sua origem em Descartes que dividiu o ser humano em corpo e alma (dualismo): antes de Descartes, para a Igreja Católica e nomeadamente S. Tomás de Aquino, o ser humano era uma unidade integrada e não dividida, sendo apenas potência em acto (Aristóteles).

O Bergoglio afirmou, preto no branco (fazendo um processo de intenções a Maria) que a mãe de Jesus se sentiu desiludida e frustrada com Deus. Para o Bergoglio, essa frustração e desilusão decorre da dúvida dualista cartesiana que ele adoptou em relação à fé católica e que provém da Nova Teologia e do existencialista Kierkegaard.

Introduzir a corrente filosófica existencialista na doutrina da Igreja Católica é uma péssima ideia. Quando dizem que “o papa Francisco I é contra a Teologia da Libertação e contra o Marxismo”, trata-se de uma falácia, porque do existencialismo idealista de Kierkegaard ao existencialismo materialista e marxista de Sartre, vai um passo de caracol: o princípio é o mesmo: a dúvida cartesiana aplicada à metafísica.