Elon Musk diz que a União Europeia tem que acabar porque o Twitter vai ter que pagar uma multa de 120 milhões de Euros alegadamente por “falta de transparência”.
Qualquer dia, Elon Musk irá pedir o fim de Portugal enquanto país, porque acordou com uma caganeira desgraçada depois de ter comido um prato de receita portuguesa de bacalhau com natas.
Não passa pela cabeça de Elon Musk simplesmente deixar o mercado da União Europeia: bastaria a Elon Musk barrar o acesso da União Europeia ao TwitterX, e estaria resolvido o problema dele.
A Nova Direita americana segue o subjectivismo radical de Hume que dizia que “não é irracional que um homem prefira a destruição do mundo, a uma esfoladela no seu dedo”, por um lado; e por outro lado segue à risca o Marginalismo de Carl Menger que dizia que “é tão útil a oração para o homem santo, como é útil o crime para o homem criminoso”.
Se juntarmos o subjectivismo e o utilitarismo radicais, por um lado, ao Pragmatismo1 tradicional americano, por outro lado, temos a receita para uma tragédia na política americana que já se desenrola a olhos vistos.
Antes de mais, convém dizer que a “Nova Direita” nos Estados Unidos não é uma Direita conservadora: é uma Direita revolucionária influenciada pelo hegelianismo dialéctico de Dugin adaptado para os Estados Unidos por Steve Bannon.
O problema aqui é o de saber se a multa da União Europeia ao TwitterX é legítima ou não — porque “legal” será com certeza: uma lei pode não ser legítima.

De acordo com o actual critério do TwitterX, se eu criar um perfil no TwitterX com o nome António Cagalhão, e pagar ao Twitter um determinado valor através do qual me é concedido um atestado de autenticidade através do “checkmark” (o sinal de visto), então segue-se que os outros utilizadores do TwitterX poderão acreditar que o perfil do António Cagalhão corresponde a um personagem real.
Conclusão: o critério da multa da União Europeia é compreensível e legítimo, embora eu pense que o valor da multa é exagerado.
Nota
1. Pragmatismo : doutrina de finais do século XIX, o Pragmatismo desenvolveu-se sobretudo nos Estados Unidos, e depois em Inglaterra e em França.
O termo “Pragmatismo” foi usado pela primeira vez pelo americano Peirce para o qual a “validade” dos nossos juízos é resultado da diferença prática que se verifica entre a sua afirmação ou a sua negação.
Esta doutrina é consequência do avanço da biologia darwinista, por um lado, e por outro lado das teorias físicas da época onde as hipóteses eram apreciadas em função da sua comodidade.
Não é estranha a esta doutrina a mentalidade protestante, na medida em que alguns pragmatistas acabaram por afirmar a crença num Deus pessoal subsumido do panteísmo dos hegelianos.
O pragmatismo sobrepõe uma moral prática a uma teoria da Verdade, ou seja, a Verdade, segundo os pragmatistas, existe em função do nosso desejo de acção. O conhecimento deve ser uma espécie de “prospecção do futuro”, e considera a verdade como um programa de acção revolucionária, como se fosse possível moldar o futuro.
A criação da Verdade pelo homem, a partir de uma razão que “cola” à experiência e que toma como critério o seu valor – ou seja, a sua eficácia: dizia o pragmatista Leuba: “Deus não é acreditado: em vez disso, é utilizado”. William James fala mesmo no valor monetário (cash-value) das nossas ideias enquanto ideias, e não apenas como sinais de troca.
O Pragmatismo é auto-contraditório; e sendo tomado à letra levar-nos-ia à apraxia – porque, para julgar as consequências ou a eficiência de um acto, é necessário conhecer essas consequências e essa eficiência antes de cometer o acto. Se apenas tivermos em consideração a miríade de possibilidades dos eventos futuros decorrentes dos nossos actos, então não é possível atacar — como os pragmatistas fazem! — a teoria clássica da Verdade.


