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sábado, 5 de outubro de 2019

O libertarismo não é uma alternativa viável à ditadura do politicamente correcto


O Alberto Gonçalves escreve o seguinte:

“A ideia [a dos novos puritanos, politicamente correctos actuais] é estabelecer um quadro das regras que devem regimentar a humanidade, e de seguida catar exemplos de violação das regras. Por fim, convém punir os prevaricadores”.


“O liberalismo prega o direito do indivíduo à sua auto-degradação, sempre que a sua auto-degradação não estorve a auto-degradação do vizinho”Nicolás Gómez Dávila 

Quando o Alberto Gonçalves faz a crítica de um determinado “quadro politicamente correcto das regras que devem regimentar a humanidade”, o que ele pretende estabelecer é um determinado quadro alternativo de regras que devem regimentar a humanidade que seja deferente do “quadro das regras politicamente correctas que devem regimentar a humanidade” — porque se alguém afirma algo ou faz uma crítica, está convencido que a sua afirmação ou crítica estão correctas e que todos devem corroborar essa opinião.

Convém dizer que — em todas épocas, ao longo da História — sempre existiu uma qualquer cultura “politicamente correcta” (a cultura preponderante em uma determinada época histórica, que tem sempre um “quadro de regras”); o problema consiste no facto de essa cultura politicamente correcta entrar (ou não) em confronto radical com a Natureza Humana e, consequentemente, com aquilo a que os medievais (por exemplo, S. Tomás de Aquino) e os iluministas (por exemplo, Wolff) chamaram de “jusnaturalismo .

A negação (mais ou menos radical) da Metafísica não deixa de ser uma forma de metafísica.

Por exemplo: quando a ideóloga socialista e feminista Isabel Moreira escreveu que “o Direito deve ser, felizmente, antinatural”, revela o epítome da evolução cultural e histórica do liberalismo (por favor ler o livro “¿Porque Está a Falhar o Liberalismo?”, para melhor se compreender a evolução da decadência do liberalismo contemporâneo).

A negação da importância da influência da Natureza e do Cosmos, na organização humana, é uma característica dos gnósticos [ou “puritanos”] de todas as épocas.

Em resumo: a crítica racional ao politicamente correcto actual não se pode escorar no libertarismo (por exemplo, o libertarismo do Alberto Gonçalves), porque o libertarismo é uma das causas da decadência actual do liberalismo.

“A mentalidade liberal nunca entende que os horrores que a espantam são o lado avesso das falácias que ela admira”.Nicolás Gómez Dávila 

A alternativa viável ao conjunto de regras (jurídicas, éticas, morais) do politicamente correcto actual — que nega a importância da influência da Natureza e do Cosmos na organização social  — é um outro conjunto de regras (jurídicas, éticas, morais) que tenham em devida conta a importância da Natureza e do Cosmos na Natureza Humana (por exemplo, através do jusnaturalismo e conceito jurídico aristotélico de equidade).

A crítica ao politicamente correcto actual, que não lhe aponte uma alternativa viável, é uma nova edição da Teoria Crítica.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Os 'libertários' portugueses ainda seguem Ayn Rand

 

O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada fez um comentário a um texto psicótico da Maria João Marques que eu também já tinha comentado. O meu comentário foca-se no absurdo que é a ausência de argumentos válidos no texto de Maria João Marques; o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada vai mais longe e faz um fisking do textículo de Maria João Marques.

O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada fez bem em publicar o comentário, por razões pedagógicas — não em relação a Maria João Marques, mas antes em relação ao público em geral. É bom que o cidadão valorize o argumento válido, em uma tese ou discussão.


libertarismo-webDo ponto de vista filosófico, a Maria João Marques é uma nódoa — como é uma nódoa a maioria dos escribas do Insurgente. Não há ponta por onde se lhe pegue.

É daquela gente que ainda não se deu conta de que o Objectivismo, de Ayn Rand, já foi consistentemente reduzido ao absurdo. Os Insurgentes fazem lembrar os comunas que ainda vivem no tempo de Estaline, quando ainda se baseiam em uma doutrina ética auto-contraditória que nenhum manual de filosofia digno desse nome já faz referência.

Do ponto de vista da filosofia e da ética, o Objectivismo de Ayn Rand é paupérrimo e não tem nada de original senão um sincretismo pobre e mal construído entre Nietzsche e a corrente marginalista de Carl Menger e Walras. Nenhum manual sério — repito: sério — e completo de filosofia menciona Ayn Rand; ela simplesmente não conta para a história da filosofia.

De Nietzsche, Ayn Rand foi buscar a noção de “selecção natural darwinista” que determina as elites sociais [social-darwinismo] e o desprezo pelo Cristianismo, pelos cristãos, e pela religião em geral. De Carl Menger e do marginalismo, Rand foi buscar a noção utilitarista radical segundo a qual “é tão útil a oração para o homem santo, como é útil o crime para o homem criminoso”.

Hoje, os manuais de filosofia (propriamente ditos) referem-se a David Gauthier e sobretudo a Nozick, quando tratam o Libertarismo; e mesmo assim, este “libertarismo” é evocado para fazer a crítica de John Rawls e de Habermas. De resto, o chamado “libertarismo” foi devidamente destruído pelos chamados “filósofos comunitaristas” — Michael Sandel, Alasdair MacIntyre, Michael Walzer, Charles Taylor, entre outros.

domingo, 12 de junho de 2016

O libertarismo de Esquerda é uma treta

 

“Entre um mundo sem qualquer forma de coerção e outro em que alguma (por vezes, muita) coerção é compensada por certos serviços e bens, a esmagadora maioria das pessoas preferirá o segundo”.

O nó górdio do libertarianismo

Os dados estatísticos dizem que a esmagadora maioria das mulheres preferem “a coerção do Estado compensada por certos serviços e bens”, e que uma minoria de homens tem essa preferência. Não quero com isto dizer que as mulheres não sejam “pessoas”: quero dizer que as “pessoas” são do sexo masculino ou do sexo feminino, e que os interesses dos dois sexos são diferentes.

Em qualquer seita, como em qualquer sociedade, um dos “segredos” do Poder está no controlo das mulheres: controlem as mulheres e os homens (em geral) seguem-nas de forma canina, mesmo que não concordem com elas. O que se passa hoje é que o controlo das mulheres é realizado através do fomento de uma “indisciplina cultural feminina”: a mulher é controlada (pela Esquerda) deixando-a em “roda livre”, porque se sabe que a mulher sacrifica a sua liberdade em favor da segurança do “guarda-chuva” do Estado.

A “liberdade da mulher”, propalada pela Esquerda, é apenas a tendência da mulher de se sujeitar ao Estado. igualdade-diversidade

Até há pouco tempo, eu pensava que a democracia fosse um sistema político racional — ou, pelo menos, mais racional do que os outros. Mas hoje verifico que a democracia conduz à negação da democracia, na medida em que o corolário do “caminho democrático para o socialismo” (porque as mulheres são maioritárias na sociedade e têm direito a voto, e porque o protagonismo das mulheres na política tem vindo a aumentar) significa, a prazo, a negação da democracia na medida em que o indivíduo se vai diluindo no colectivo.

Naturalmente que a Esquerda dita “libertária” diz que defende os “direitos do indivíduo” — o que nos causa alguma confusão: ¿como é possível que o Bloco de Esquerda, por exemplo, defenda os “direitos do indivíduo” e, simultaneamente, tenha uma visão colectivista da sociedade?

O reconhecimento social de toda a espécie de “direitos” e “liberdades” tem como contraponto o retraimento narcísico dos indivíduos e o seu desinteresse pela coisa pública, em que, finalmente, a omnipresente encenação da liberalização dos costumes encobre uma propensão para o mimetismo, um seguidismo, e um conformismo sem precedentes. Ou seja, o “libertarianismo” sob tutela do Estado pode levar ao anonimato e à indistinção do indivíduo — e a Esquerda sabe disso.

O que a Esquerda “libertária” está a criar é um aumento progressivo da tutela da organização burocrática do Estado em que, por um lado, se afirma a singularidade do indivíduo, mas por outro lado, esse indivíduo é concebido de forma abstracta e em um anonimato generalizado. Quando o Bloco de Esquerda diz que defende os “direitos do indivíduo”, nada mais faz do que aumentar o poder do Estado sobre o indivíduo — o que é uma contradição em termos.

Portanto, o libertarismo de Esquerda é uma treta.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Os crimes-de-ódio e a liberdade de expressão

 

Ursula-PresgraveEste texto traduz um dos maiores problemas da nossa sociedade actual: os chamados “crimes de ódio”. Uma galdéria inglesa que participa em “Reality Shows” (ver imagem de Ursula Presgrave) escreveu no FaceBook que “as criança com Trissomia 21 deveriam ser abatidas”; foi levada a tribunal e condenada a 6 meses de prisão remíveis com 5 mil libras de multa.

O articulista, que é um libertário (provavelmente de direita), diz que a Justiça inglesa não tem nada a ver com aquilo que as pessoas dizem, alegadamente porque as pessoas são livres de dizer o que quiserem e “lhes der na real gana”, em nome da “liberdade de expressão”; e até invoca Stuart Mill para sustentar a “liberdade de expressão”.

O problema ético (com consequências jurídicas) é o seguinte: ¿há limites para a liberdade de expressão? ¿E havendo, quais são esses limites?

Hoje há uma grande confusão acerca do conceito de “crimes-de-ódio”, e a Esquerda é a responsável por essa confusão.

Por exemplo, se um padeiro cristão afirma que se recusa a fazer um bolo para um "casamento" gay, é acusado e julgado em tribunal por “crime-de-ódio” contra os homossexuais; mas se alguém disser que “os gays devem ser abatidos”, é igualmente acusado e julgado em tribunal por “crime-de-ódio”. Deixou de existir um critério racional seguro acerca do que é a “liberdade de expressão”, devido ao politicamente correcto e/ou marxismo cultural.

O senso-comum deixou de ter bom-senso.

Esta confusão propositada da Esquerda conduz à confusão dos libertários de Direita que, em função do radicalismo politicamente correcto que pretende controlar o pensamento do cidadão, tendem a tornar absoluto o conceito de “liberdade de expressão”. Uns dizem que o discurso deve ser censurado, e os outros dizem que não deve haver qualquer censura no discurso.

Desde logo existe o critério do “alarme social”.

Não é a mesma coisa que um “blogueiro” obscuro escreva que “os gays devem ser abatidos”, ou que alguém que apareça na televisão diga a mesma coisa. Quem aparece nos me®dia tem um alcance sócio-cultural muito maior.

Depois existe o critério do “atentado à integridade física da pessoa”.

Alguém que escreva, por exemplo, que “os gays devem ser abatidos”, revela uma intencionalidade objectiva de que se atente contra a integridade física dos homossexuais em geral, e enquanto pessoas.


Portanto, o limite absoluto da liberdade expressão é, em primeiro lugar, o discurso de atentado à integridade física da pessoa, e depois o alarme social que esse discurso pode causar. Estes critérios devem ser universais (aplicável à Esquerda e à Direita), criando um senso-comum baseado no bom-senso.

Depois temos as alegadas “injúrias”, as “difamações”, etc., que podem ser ou não, dependendo das decisões dos tribunais, e que fazem parte da liberdade de expressão. Mas atentar de forma verbal, pública e com alarme social contra a integridade física de uma pessoa (nascida ou nascitura) não pode deixar de ser crime.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Os libertários seguem Nietzsche

 

A Helena Damião chama aqui à atenção para a “coimbrização” 1 da classe académica em geral: hoje é preciso ter muito cuidado com os professores universitários, tanto em Portugal como no Brasil. Hoje, professor que se preze é “coimbrinha”. A inteligência académica atingiu o grau zero — embora ainda longe do zero absoluto.

Temos aqui um texto de um professor de Direito do Brasil. Vou citar uma amostra:

“O direito ao próprio corpo ainda está longe de ser conquistado e reconhecido como um direito fundamental da pessoa humana”.

pessoa-humana
Gostaria que um professor de Direito (coimbrinha) me explicasse o que é uma “pessoa não humana” — porque se existem “pessoas humanas” (e “círculos redondos”, também), também devem existir pessoas que não sejam humanas. Quando uma “pessoa humana” — como parece ser o meu caso — verifica que um professor de Direito constata a existência (do ponto de vista ontológico) de “pessoas não humanas”, começa a desconfiar da merda do Direito Positivo. Talvez o distinto professor de Direito estivesse a pensar no pai dele.

Temos ali um professor de Direito que recusa a normalização do Direito. Ou seja, defende a lei da selva. Ou melhor: o Direito é visto como negação da sociedade.2 Kant explica por que razão o professor é coimbrinha.

1/ Os homens são “insociavelmente sociáveis” (Kant); querem viver em sociedade, pois sabem que isso é necessário (sociabilidade), mas nenhum está disposto a impôr a si próprio as exigências provenientes dessa existência colectiva (insociabilidade). Se entregues a si mesmas, as relações humanas seriam passionais e gerariam conflitos e insegurança, acabando numa situação contrária ao objectivo da associação. É necessário, por isso, compreender em que condições um direito é verdadeiramente um direito — garantindo realmente a cada um a faculdade de usar os seus direitos (direitos subjectivos), mas impondo-lhe também deveres legítimos.

2/ Se a função do Direito Positivo é o de rectificar, seria contraditório que fosse buscar os seus fundamentos àquilo que existe (na sociedade e na Natureza). Por exemplo, não é porque existem (na Natureza e/ou na sociedade) homens mais fortes do que outros que o Direito tem que necessariamente defender os mais fortes; ou não é porque existem gays que se torna necessário legalizar o "casamento" gay como um direito; ou não é porque existem pessoas viciadas em heroína que o seu consumo deve ser necessariamente legalizado como sendo um direito.

Os factos não justificam o direito e não fundam o Direito. Um professor de Direito deveria saber disto.

A redução da norma ao facto, que caracteriza o Direito Positivo actual, deve-se ao problema de saber o que funda o direito: trata-se de um problema metafísico que os coimbrinhas fazem de conta que não existe.

3/

“Cada qual se considera livre exactamente onde o seu sentimento de existir é mais forte.”

— Nietzsche

Toda a actual infra-estrutura ideológica politicamente correcta do Direito e da política é baseada nas ideias de Nietzsche (que depois tiveram os seus sucessores ideológicos, desde Heidegger, Ayn Rand, a Foucault e a Derrida, por exemplo), — e, na economia liberal, nos marginalistas do século XIX que descambou na actual concepção de uma total subjectivização do capitalismo (neoliberalismo). Ou seja, a infra-estrutura ideológica vigente é baseada no sentimento, no subjectivo absolutizado, e na emoção; mas não na Razão.

Se o acto de meter uma bala nos miolos traduz o meu “sentimento mais forte de existir”, então segue-se que a minha felicidade de existir e de viver é reduzida à minha própria morte. O acto niilista do suicídio passa a traduzir uma felicidade de viver — o que é uma contradição em termos.

Segundo Nietzsche, por exemplo, o sentido da vida escolhido por Hitler é ontológica- e eticamente equivalente ao sentido de vida escolhido por Albert Schweitzer — porque, para ambos, alegadamente o que conta é que as suas (deles) liberdades foram apenas condicionadas pela força dos seus (deles) sentimentos (emoções) de existir.

A esta infra-estrutura ideológica niilista e nietzscheana, o politicamente correcto acrescentou uma super-estrutura ideológica baseada na absolutização (metafísica, ética, política e jurídica) da liberdade negativa a que chama “autonomia”.

À semelhança de Kant, o americano Isaiah Berlin3 opõe a liberdade negativa (por exemplo, a liberdade de se exprimir sem censura) à liberdade positiva que é o poder de tomar parte nas decisões públicas e de exercer a autoridade em geral.

Estes dois aspectos da liberdade deveriam sempre coincidir: aquele que exerce o Poder não pode (racionalmente) querer anular-se a si próprio.

Mesmo que coloquemos reservas a Kant e a Berlin, e seguíssemos o ponto de vista de Raymond Aron segundo o qual a liberdade negativa é a liberdade por excelência, então teríamos que aceitar todo o “pacote” ideológico de Aron que afirma que todas as outras liberdades — para além da liberdade negativa — não passam de “direitos-capacidades” ou de “direitos-crenças”: por exemplo, o direito a um emprego; ou o direito à educação; ou o direito ao reconhecimento legal de que um gay foi sexualmente violado durante a confusão de uma orgia gay; ou o direito ao "casamento" gay: tudo isto são “direitos-capacidades” ou de “direitos-crenças” (segundo Aron) que podemos exigir do Estado, mas que o Estado (ou seja, a sociedade organizada) não tem qualquer obrigação de conceder.

Porém, o que o professor coimbrinha brasileiro defende é liberdade negativa de Aron, e ao mesmo tempo a obrigação da sociedade em conceder “direitos-capacidades” ou de “direitos-crenças” em função da subjectivização absoluta do Direito e da ética, ou seja, negando qualquer critério à liberdade positiva: pretende conciliar Berlin e Kant, por um lado, e Aron, por outro lado, o que é uma impossibilidade objectiva.


Notas
1. A “coimbrização” é o equivalente português do Imbecil Colectivo, segundo Olavo de Carvalho: “O 'imbecil colectivo' é uma comunidade de pessoas de inteligência normal ou superior que se reúnem com o propósito de imbecilizar-se umas às outras”.

2. A sociedade é um reagrupamento de individualidades, estruturado por ligações de dependência recíproca, e evoluindo segundo esquemas regulamentados e regidas por instituições — sendo que “instituição” é uma forma de organização de vida social que a sociedade concede a si mesma para assegurar a sua perenidade.

3. “Duas Concepções da Liberdade”.

domingo, 8 de março de 2015

A atomização da sociedade conduz a um colectivismo totalitário

 

A ideologia de género é mais um passo negativo no impulso da individualização do ser humano que se iniciou na Europa com o Cristianismo. Com o Renascimento e com Lutero, esse impulso de individualização aumentou (viragem subjectiva). Com o Iluminismo (por exemplo, com Kant), esse impulso de individualização atingiu o seu auge enquanto sistema sujeito a uma determinada ordem.

A partir do século XIX, o impulso de individualização tornou-se caótico e a-social (liberalismo e Marginalismo): os motes liberais eram os de “salve-se quem puder”, e “pimenta no cu do meu vizinho é chupa-chupa”.

A religião cristã, que tinha sido durante séculos um elemento de aglutinação social e cultural na Europa, passou a ser criticada (viragem crítica), em primeiro lugar, pelos liberais vendidos à  burguesia (por exemplo, Voltaire), e depois pela chamada Esquerda Hegeliana (por exemplo, Feuerbach).

sábado, 17 de janeiro de 2015

Os liberais Carlos Abreu Amorim, Ana Gomes e Boaventura Sousa Santos

 

Ontem à noite vi o debate entre o Carlos Abreu Amorim e Ana Gomes na TVI24. As posições de cada um face ao terror do Charlie Hebdo são baseadas nas posições clássicas do liberalismo de direita, por um lado, e no liberalismo de esquerda (também chamado “libertarismo” na Europa, e nos Estados Unidos de “liberalism”).

O liberalismo de direita — ou seja, para o Carlos Abreu Amorim — consiste na crença numa só verdade universal segundo a qual todas as pessoas têm direitos (jurídicos) iguais 1. E embora existam culturas diferentes, todas elas estão em conformidade com essa verdade universal única 2  — incluindo o Islão. Para as pessoas da direita-liberal, o "pecado" maior é a negação esta verdade universal única, e o seu corolário é o de que todas as pessoas são capazes de seguir essa verdade.

O libertarismo de esquerda  3 — ou Ana Gomes, ou Boaventura Sousa Santos — consiste na crença numa igualdade substantiva e moral da humanidade (relativismo moral: todas as culturas são igualmente válidas). O liberalismo de esquerda rejeita a noção de verdade universal única dos liberais de direita, porque essa verdade seria superior às outras verdades, e porque as pessoas que acreditem nessa verdade se sentiriam superiores e tentariam dominar as outras (marxismo cultural e a noção de “domínio”).

Para o liberalismo de esquerda, todas as verdades, todas as pessoas, todas as culturas, todas as religiões (incluindo a Macumba, o Satanismo e o Candomblé] têm que ser tratadas de forma igual. Para a esquerda liberal, o "pecado" mais grave é imaginar que alguém possa estar na posse da verdade e que possa esperar que outras pessoas dêem a anuência a essa verdade.

Corolário: a direita liberal pensa que a esquerda liberal comete o maior "pecado", e vice-versa. Mas é o princípio da igualdade que lhes é comum.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O libertarismo é um puritanismo

 

O Rui Ramos escreve aqui um artigo ambíguo, ambivalente e até contraditório — porque o fundamento de que parte o seu (dele) raciocínio não é claro e inteligível.

Antes de mais, convém dizer que nada está acima da crítica; nem o Papa. As religiões são susceptíveis de crítica, como é óbvio. Mas temos que definir “crítica”, porque de outro modo não sabemos do que estamos a falar — como acontece com o texto do Rui Ramos.

Em segundo lugar, convém dizer que o homicídio é um acto social- e espiritualmente condenável.


“Crítica” não é a mesma coisa que “humilhação”.

O Rui Ramos não deveria confundir “liberdade de expressão” com “liberdade de excrementação”. Também existe a liberdade de borrar as paredes com grafiti, o que não significa que essa liberdade de excrementação seja necessariamente consentânea com o bom-senso. O bom-senso pode ser definido como o juízo prudente e saudável baseado na simples percepção das situações e dos factos – juízo esse que concede à sociedade um nível básico de julgamentos e de conhecimentos que lhe permita viver de uma forma razoável e segura.

A crítica pode ser, no sentido comum, “denúncia vigorosa” ou “contestação”. Mas é sobretudo a análise dos fundamentos de qualquer coisa ou de qualquer ideia. A crítica remete para uma actividade especial da razão: fazer divisões, discernimentos e juízos. A crítica é também a razão na sua dimensão jurídica: aparece como censor e juiz, separando o trigo do joio, distinguindo o verdadeiro do falso, o bom do mau.

Quando a crítica não obedece a estes critérios, não é crítica: é humilhação. E a humilhação é sempre uma característica de um qualquer puritanismo. A humilhação de outrem é uma característica do puritanismo politicamente correcto.

Diz o Rui Ramos que “o limite da liberdade é a lei”.

Bem, se assim for, na lei da selva, então a liberdade é ilimitada; mas isso não é liberdade, mas antes é libertinagem. Basta que o Código Penal seja reduzido apenas à  condenação do homicídio para que a liberdade seja concebida como um conjunto de actos gratuitos. Longe vão os tempos do Iluminismo e de Kant, que dizia que a liberdade é simultaneamente negativa (a pessoa livre de coacção) e positiva (o cidadão legislador).

Hoje, o libertarismo que o Rui Ramos defende é uma vergôntea do puritanismo que ele próprio critica nos outros: o puritanismo libertário tem a sua própria austeridade e rigidez de princípios que passa, por exemplo, pela sistemática humilhação irracional de outrem — e não pela crítica propriamente dita que deve ser sempre racional.

¿Podemos criticar, por exemplo, o Alcorão? Claro que sim! — mas por razões objectivas, e não com o propósito de humilhar. Uma “crítica” não significa “humilhação”, porque a humilhação é sempre irracional, e a crítica é racional.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

É tudo a mesma trampa!

 

O blasfemo de serviço critica a Ana Gomes. A diferença é que uns são pela austeridade e os outros não. Ponto final. De resto é a mesma trampa: para eles, a política resume-se à  economia. A Direita vai para o Poder para confirmar as políticas de Esquerda — excepto na economia: em tudo o resto, são iguais.

Na direita são liberais, e na esquerda, libertários. São irmãos gémeos desavindos.

Um liberal é alguém que só pensa no seu ventre, e um libertário é alguém que só pensa no seu baixo-ventre. Os liberais e os libertários formaram, ao longo de décadas, uma aliança política que caracteriza a diarreia mental e a fornicação psicológica a que temos estado sujeitos desde Maio de 1968.

Eu não aprecio a Marine Le Pen, nomeadamente porque se ela chegar ao Poder, haverá um reforço do laicismo em França. Sou pelo secularismo, e não pelo laicismo (são conceitos diferentes).

Mas “o acúmulo de muitos anos de más políticas de imigração, a cobardia face aos ataques à nossa liberdade e aos princípios da nossa civilização travestida de «tolerância» humanista, a subserviência temerosa a um falso respeito pelas convicções alheias, compensado pelo profundo desrespeito pelas nossas” — tudo isso faz parte daquilo que não é da área da economia que diferencia liberais e libertários.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O silêncio dos defensores portugueses da eutanásia

 

A notícia segundo a qual a Bélgica legalizou a eutanásia para crianças sem qualquer limite de idade, foi recebida com um silêncio de morte por parte dos defensores portugueses da eutanásia, na sua maioria da esquerda maçónica, mas também do Bloco de Esquerda e de uma certa “direita” libertária. Não vi nada escrito sobre o assunto, e não sei explicar esse silêncio senão pelo total absurdo que a eutanásia de crianças implica.

bandeira belgaPerante os critérios de inimputabilidade moral e jurídica que o Direito contempla o estatuto da criança, estamos, atónitos, perante uma contradição fundamental que roça a irracionalidade mais abjecta: por um lado, as crianças não podem ser juridicamente e moralmente responsabilizadas se cometerem um acto de assassínio; mas, por outro lado, já podem ser juridicamente e moralmente responsáveis para decidirem a sua própria morte. O legislador belga não responsabiliza (integralmente) as crianças se estas atentarem contra a integridade física de outrem, por um lado; mas, por outro lado, dá às crianças liberdade total para atentarem contra a sua própria integridade física.

Como escreveu Christian Vanneste, a esquerda europeia e maçónica (com o beneplácito da “direita” libertária, acrescento eu) desistiu das reformas no âmbito da economia e passou à revolução da moral — nomeadamente através da inversão e perversão dos tabus tradicionais na esfera da família e da concepção da pessoa. Essa inversão, maçónica, esquerdista, alegadamente “libertária” e perversa, dos tabus, passa pela exaltação da autonomia individual mas sempre desprovida de qualquer culpa: é um sistema que permite a eutanásia de crianças inocentes de 12 anos, por exemplo, mas já não permite a punição da culpa de um adolescente de 17 anos.

Estamos a lidar com uma classe política perversa e próxima da “loucura” aqui entendida em termos do senso-comum. Esta gente é louca, e como tal deve ser tratada. Não devemos dar um “palmo de terreno” à maçonaria, por exemplo: essa gentalha deve ser combatida sem quartel e através de todos os meios considerados adequados.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A nova “democracia” sugerida pela Nova América

 

“Tom Perkins, the Silicon Valley billionaire, has risked further controversy by saying the rich should be given more votes than the less well off.

An unrepentant Mr Perkins also said those who paid no taxes whatsoever should be disfranchised.”

Rich should get more votes, says billionaire Tom Perkins

Eis o passo seguinte do neoliberalismo: “os mais ricos devem ter mais votos, e os pobres que não paguem impostos devem ser marginalizados da política”.

plutocrata webAs ideias têm causas e consequências. Que ninguém pense que estas ideias surgem por acaso, ou que não têm importância. Pelo contrário, são ideias bem maturadas e que pretendem afirmar-se em uma sociedade caracterizada pela maximização de uma ética utilitarista entendida no seu pior sentido.

O lógica do libertarismo de direita — económico e financeiro — conduz a uma distorção da democracia e mesmo a uma forma mitigada de totalitarismo. Os libertários de direita não se dão conta de que sem a democracia correm o sério risco de sofrerem represálias e revezes históricos.

Os princípios liberais clássicos, por exemplo o da igualdade fundamental do cidadão perante a lei, começam agora a ser colocados em causa pelo capitalismo egocêntrico que defende a ideia revolucionária segundo a qual “a humanidade encontra-se perante o Fim da História”.